terça-feira, 31 de maio de 2011

Exercícios obrigatórios e calendário das próximas atividades

Agora, vamos ao que interessa:


- 08 e 10/06 - Eu não darei aula a vocês; estarei no Congresso da ALFAL. No entanto, deixo tarefas para este período. Ficam dois exercícios, obrigatórios, cuja entrega os qualifica para fazer a próxima prova.
O primeiro deles é o da transcrição fonética e fonológica dos "erres" nas músicas disponíveis aqui no blog, neste post:  http://profclaudiacunha.blogspot.com/2011/05/aula-de-sexta-13-de-maio-tarefas-sobre.html. Para organizar a transcrição, preparei uma tabela e pus algumas orientações:

1. Exercício de transcrição fonética e fonológica dos "erres" nas músicas

O segundo é um exercício, também de transcrição, que envolve vogais e consoantes:
2. Exercícios de transcrição fonética e fonêmica


- 08/06 - Entrega dos exercícios aos monitores. Apesar de eu não estar aqui e vocês não terem aula, vocês se encontrarão com os monitores para entregar a eles os dois exercícios. Cada monitor ficará responsável por uma turma:

Turma das 09:20h: Victor Viana  victor.viana@ufrj.br
Turma das 11:10h: Roberto de Farias robertofdjr@hotmail.com

Eu e os rapazes estamos combinando a hora e o local da entrega. Assim que eu tiver as informações, repasso a todos.

- 15/06 - Entrega dos exercícios corrigidos às turmas.

- 17/06 - 2a PROVA (sobre a matéria de fonologia dada até aqui: sistema consonantal e vocálico)

Acho que é isso! Boa sorte pra nós!

Aulas de 25 e 27 de maio

As aulas da semana passada foram dedicadas ao sistema vocálico e tratamos da descrição do sistema na posição tônica e nas posições átonas. Leituras obrigatórias:

Callou e Leite, Capítulo III, item 2 ("O sistema vocálico"). pág. 76 a 84.

Camara Jr., pág. 39 a 46.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Da série: "a variação linguística existe"

A oposição já começou a campanha no facebook...rs. O 'Appendix Probi' (uma das fontes do latim vulgar) deve ter sido publicado num cartaz assim:


‎'Appendix Probi' é um texto do século IV d.C., de autor desconhecido, no qual se compilam os erros mais frequentes na fala latina da época, opondo-os às formas corretas do latim clássico. Uma das correções é "auris non oricla". Mas não teve jeito: o povo só falava 'oricla'. E foi essa forma que deu origem à palavra 'orelha'. A novidade de ontem é o comum de hoje... e o erro/ a novidade de hoje pode ser o acerto / o comum de amanhã.

Se alguma língua precisa ser salva (será que tem?) é aquela que vai morrer porque o povo que [a fala/fala ela] [está/tá] em vias de extinção. Aí a missão é salvar o povo, [não é/né]? Se não der, [nós/a gente] salvamos só a língua mesmo, num livrinho. Quanto ao português... o português vai bem, obrigado! Variável e plural, como tudo que vive.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Aula de 18 de maio: traços distintivos

Entramos no último tópico referente às consoantes: os traços distintivos. Leituras obrigatórias:

1. Callou e Leite: Capítulo I, item 2b e Capítulo III, pág. 71-72 (lembrando que, como meu livro é um exemplar da 1a edição, há uma diferença na paginação. Vejam, pelo conteúdo do texto, onde se fala sobre traços (inclusive, peço ajuda aos universitários: postem aí nos comentários as páginas correspondentes nas edições mais recentes).

2. Traços distintivos: definições

PS: Temos um exercício pendente, de transcrição fonética dos "erres". Vão fazendo que amanhã eu solto uma notícia sobre ele.

Ainda sobre a controvérsia da abordagem da variação linguística nos livros didáticos: texto de Sirio Possenti

Sírio Possenti é professor associado no Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-Unicamp) e o texto que transcrevo me chega por email, divulgado com o consentimento do autor. O texto foi postado no portal Terra e compartilho, transcrevendo-o / transcrevendo ele para/pra vocês:


ACEITAM TUDO
 Sírio Possenti

De vez em quando, alguém diz que lingüistas “aceitam” tudo (isto é, que acham certa qualquer construção). Um comentário semelhante foi postado na semana passada. Achei que seria uma boa oportunidade para tentar esclarecer de novo o que fazem os linguistas.
Mas a razão para tentar ser claro não tem mais a ver apenas com aquele comentário. Surgiu uma celeuma causada por notas, comentários, entrevistas etc. a propósito de um livro de português que o MEC aprovou e que ensinaria que é certo dizer Os livro. Perguntado no espaço dos comentários, quando fiquei sabendo da questão, disse que não acreditava na matéria do IG, primeira fonte do debate. Depois tive acesso à indigitada página, no mesmo IG, e constatei que todos os que a leram a leram errado. Mas aposto que muitos a comentaram sem ler.
Vou tratar do tal “aceitam tudo”, que vale também para o caso do livro.
Primeiro: duvido que alguém encontre esta afirmação em qualquer texto de lingüística. É uma avaliação simplificada, na verdade, um simulacro, da posição dos lingüistas em relação a um dos tópicos de seus estudos - a questão da variação ou da diversidade interna de qualquer língua. Vale a pena insistir: de qualquer língua.
Segundo: “aceitar” é um termo completamente sem sentido quando se trata de pesquisa. Imaginem o ridículo que seria perguntar a um químico se ele aceita que o oxigênio queime, a um físico se aceita a gravitação ou a fissão, a um ornitólogo se ele aceita que um tucano tenha bico tão desproporcional, a um botânico se ele aceita o cheiro da jaca, ou mesmo a um lingüista se ele aceita que o inglês não tenha gênero nem subjuntivo e que o latim não tivesse artigo definido.
Não só não se pergunta se eles “aceitam”, como também não se pergunta se isso tudo está certo. Como se sabe, houve época em que dizer que  a Terra gira ao redor do sol dava fogueira. Semmelweis foi escorraçado pelos médicos que mandavam em Viena porque disse que todos deveriam lavar as mãos antes de certos procedimentos (por exemplo, quem viesse de uma autópsia e fosse verificar o grau de dilatação de uma parturiente). Não faltou quem dissesse “quem é ele para mandar a gente lavar as mãos?”
Ou seja: não se trata de aceitar ou de não aceitar nem de achar ou de não achar correto que as pessoas digam os livro. Acabo de sair de uma fila de supermercado e ouvi duas lata, dez real, três quilo a dar com pau. Eu deveria mandar esses consumidores calar a boca? Ora! Estávamos num caixa de supermercado, todos de bermuda e chinelo! Não era um congresso científico, nem um julgamento do Supremo!
Um lingüista simplesmente “anota” os dados e tenta encontrar uma regra, isto é, uma regularidade, uma lei (não uma ordem, um mandato).
O caso é manjado: nesta variedade do português, só há marca de plural no elemento que precede o nome – artigo ou numeral (os livro, duas lata, dez real, três quilo). Se houver mais de dois elementos, a complexidade pode ser maior (meus dez livro, os meus livro verde etc.). O nome permanece invariável. O lingüista isso, constata isso. Não só na fila do supermercado, mas também em documentos da Torre do Tombo anteriores a Camões. Portanto, mesmo na língua escrita dos sábios de antanho.
O lingüista também constata the books no inglês, isto é, que não há marca de plural no artigo, só no nome, como se o inglês fosse uma espécie de avesso do português informal ou popular. O lingüista aceita isso? Ora, ele não tem alternativa! É um dado, é um fato, como a combustão, a gravitação, o bico do tucano ou as marés. O lingüista diz que a escola deve ensinar formas como os livro? Esse é outro departamento, ao qual volto logo.
Faço uma digressão para dar um exemplo de regra, porque sei que é um conceito problemático. Se dizemos “as cargas”, a primeira sílaba desta sequência é “as”. O “s” final é surdo (as cordas vocais não vibram para produzir o “s”). Se dizemos ‘as gatas”, a primeira sílaba é a “mesma”, mas nós pronunciamos “az” – com as cordas vocais vibrando para produzir o “z”. Por que dizemos um “z” neste caso? Porque a primeira consoante de “gatas” é sonora, e, por isso, a consoante que a antecede também se sonoriza. Não acredita? Vá a um laboratório e faça um teste. Ou, o que é mais barato, ponha os dedos na sua garganta, diga “as gatas” e perceberá a vibração. Tem mais: se dizemos “as asas”, não só dizemos um “z” no final de “as”, como também reordenamos as sílabas: dizemos as.ga.tas e as.ca.sas, mas dizemos a.sa.sas (“as” se dividiu, porque o “a” da palavra seguinte puxou o “s/z” para si). Dividimos “asas” em “a.sas”, mas dividimos “as asas” em a.sa.sas.
Volto ao tema do lingüista que aceitaria tudo! Para quem só teve aula de certo / errado e acha que isso é tudo, especialmente se não tiver nenhuma formação histórica que lhe permitiria saber que o certo de agora pode ter sido o errado de antes, pode ser difícil entender que o trabalho do lingüista é completamente diferente do trabalho do professor de português.
Não “aceitar” construções como as acima mencionadas ou mesmo algumas mais “chocantes” é, para um lingüista, o que seria para um botânico não “aceitar” uma gramínea. O que não significa que o botânico paste.
Proponho o seguinte experimento mental: suponha que um descendente seu nasça no ano 2500. Suponha que o português culto de então inclua formas como “A casa que eu moro nela mais os dois armário vale 300 cabral” (acho que não será o caso, mas é só um experimento). Seu descendente nunca saberá que fala uma língua errada. Saberá, talvez (se estudar mais do que você),  que um ancestral dele falava formas arcaicas do português, como 300 cabrais.
Outro tema: o linguista diz que a escola deve ensinar a dizer Os livro? Não. Nenhum lingüista propõe isso em lugar nenhum (desafio os que têm opinião contrária a fornecer uma referência). Aliás, isso não foi dito no tal livro, embora todos os comentaristas digam que leram isso.
O lingüista não propõe isso por duas razões: a) as pessoas já sabem falar os livro, não precisam ser ensinadas (observe-se que ninguém fala o livros, o que não é banal); b) ele acha – e nisso tem razão – que é mais fácil que alguém aprenda os livros se lhe dizem que há duas formas de falar do que se lhe dizem que ele é burro e não sabe nem falar, que fala tudo errado. Há muitos relatos de experiências bem sucedidas porque adotaram uma postura diferente em relação à fala dos alunos.
Enfim, cada campo tem seus Bolsonaros. Merecidos ou não.

PS 1 – todos os comentaristas (colunistas de jornais, de blogs e de TVs) que eu ouvi leram errado uma página (sim, era só UMA página!) do livro que deu origem à celeuma na semana passada. Minha pergunta é: se eles defendem a língua culta como meio de comunicação, como explicam que leram tão mal um texto escrito em língua culta? É no teste PISA que o Brasil, sempre tem fracassado, não é? Pois é, este foi um teste de leitura. Nosso jornalismo seria reprovado.
PS 2 - Alexandre Garcia começou um comentário irado sobre o livro em questão assim, no Bom Dia, Brasil de terça-feira: “quando eu TAVA na escola...”. Uma carta de leitor que criticava a forma “os livro” dizia “ensinam os alunos DE que se pode falar errado”. Uma professora entrevistada que criticou a doutrina do livro disse "a língua é ONDE nos une" e Monforte perguntou "Onde FICA as leis de concordância?". Ou seja: eles abonaram a tese do livro que estavam criticando. Só que, provavelmente, acham que falam certinho! Não se dão conta do que acontece com a língua DELES mesmos!!




domingo, 15 de maio de 2011

Texto resposta de Marcos Bagno às polêmicas na imprensa sobre a presença da variação linguística nos livros didáticos

POLÊMICA OU IGNORÂNCIA?
DISCUSSÃO SOBRE LIVRO DIDÁTICO SÓ REVELA IGNORÂNCIA DA GRANDE IMPRENSA

Marcos Bagno
Universidade de Brasília
www.marcosbagno.com.br

Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua. Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos do que eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentemente convencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação).

Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de aula. Não é coisa de petista, fiquem tranquilas senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.

Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que transformou, tem transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana. Somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos provenientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito. E, é claro, com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais entenderão que seu modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela — devidamente fossilizada e conservada em formol — que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.

Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro do conjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.

A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a impossibilidade de ver as coisas em perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes. Nesses discursos só existe o preto e o branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.

Darwin nunca disse em nenhum lugar de seus escritos que “o homem vem do macaco”. Ele disse, sim, que humanos e demais primatas deviam ter se originado de um ancestral comum. Mas essa visão mais sofisticada não interessava ao fundamentalismo religioso que precisava de um lema distorcido como “o homem vem do macaco” para empreender sua campanha obscurantista, que permanece em voga até hoje (inclusive no discurso da candidata azul disfarçada de verde à presidência da República no ano passado).

Da mesma forma, nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa não significa automaticamente combater a outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento.

Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não faz parte da gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que falam “errado”, é dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles — se julgarem pertinente, adequado e necessário — possam vir a usá-la TAMBÉM. O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assiti ao filme, que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três gatos pingados).

O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta “língua certa”, no exato momento em que a defendem, empregar regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediatamente. Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: “Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?

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Fica o texto em PDF para download: Artigo de Marcos Bagno: "Polêmica ou ignorância?"

sábado, 14 de maio de 2011

Ainda sobre a aula de 13 de maio: a saideira

Aproveito para lhes deixar a gravação da famosa Taí (cujo título, na verdade, é "Pra você gostar de mim"), da autoria de Joubert de Carvalho. Esta foi a quinta das cinco músicas gravadas por Carmen Miranda em 1930, no início da sua carreira. A marchinha foi gravada no dia 27 de janeiro, bombou no carnaval de 30, e continua nas nossas bocas até hoje:

Taí
Eu fiz tudo pra você gostar de mim
Oh, meu bem, não faz assim comigo não
Você tem, você tem que me dar seu coração

E encerro o post da mesma forma que encerrei a aula de hoje: ao som de "O que é que a baiana tem", de Dorival Caymmi. Com a diferença de que aqui podemos não só ouvir mas também ver a diva, nas cenas que sobraram de um dos seus números musicais no filme brasileiro Banana da Terra, de 1939. Foi para cantar esta música que ela se vestiu de baiana pela primeira vez. Como diz Ruy Castro, na biografia Carmen, depois desse episódio "Ioiôs e iaiás nunca mais seriam os mesmos". Nem nós.

http://www.youtube.com/watch?v=ojo3I59Gn6c

Aula de sexta, 13 de maio: tarefas sobre as vibrantes

Engraçado que atentaram pro fato de hoje ser sexta-feira treze, mas não lembramos de que não é um dia 13 qualquer: é 13 de maio! Dia da abolição da escravatura no Brasil.

Isto posto, terminei na aula de hoje os comentários sobre as vibrantes, que comecei na quarta-feira. A leitura específica é o capítulo "A interpretação das vibrantes", do livro de Callou e Leite. No entanto, nas duas aulas, fomos bem além do texto, fazendo comentários sobre as normas que permeiam o uso da língua nos meios de comunicação e nas artes (rádio, TV, teatro, cinema, música) e as mudanças que se podem testemunhar ao longo do século XX.

Fiz referência ao acervo fonográfico do Instituto Moreira Salles (IMS), que reúne grande parte da fonografia brasileira, isto é, quase tudo o que foi gravado em disco no Brasil. Interessam-nos especialmente as gravações das cinco primeiras décadas do século XX, onde se pode observar a mudança de pronúncia dos "erres" e do /l/ posvocálico. Acessando o site é possível ouvir o acervo. Peguem o endereço e visitem o Instituto: fica num casarão maravilhoso na Gávea, no meio da mata, e tem sempre exposições ótimas.

Pesquisando na web, achei um site que registra O nascimento da indústria fonográfica no Brasil. Lá se pode ouvir (segundo as informações fornecidas pela autora do blog, Leni David) a primeira gravação de música cantada feita no Brasil, o lundu "Isso é bom". A autora diz que a gravação data de 1902. Já o site do IMS situa a gravação entre 1907 e 1912. Independente da data, é um registro precioso para nós, já que constitui uma amostra de oralidade do início do século XX. É só clicar e ouvir.

Hoje, especialmente, tivemos uma aula musical e estiveram presentes Carmen Miranda, Marília Medalha, Adriana Calcanhoto, Caetano Veloso... Ouvimos duas músicas (Camisa listrada, de Assis Valente, e Disseram que eu voltei americanizada, de Vicente Paiva e Luiz Peixoto) na voz de Carmen Miranda e de outros intérpretes.

A TAREFA:

Deixo aqui as diferentes  versões das duas músicas para download e proponho que transcrevam foneticamente os "erres" (apenas os "erres", não se entusiasmem!). As letras das músicas estão disponíveis nos links que pus mais acima. As músicas:

Camisa listrada - 1938 - intérprete: Carmen Miranda
Camisa listrada - 1967 - Intérprete: Marília Medalha
Disseram que eu voltei americanizada - 1940 - Intérprete: Carmen Miranda
Disseram que eu voltei americanizada - Intérprete: Adriana Calcanhoto
Disseram que eu voltei americanizada - Intérprete: Caetano Veloso

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O surgimento da capacidade da fala - parte 3

Aproveitando a dica de um dos comentários, acho que o tema se completa bem com o filme "A guerra do fogo". Vejam uma das sinopses disponíveis na net (http://www.telona.org/a-guerra-do-fogo-dvdrip-xvid/):

Sinopse: O filme trata de dois grupos de hominídios pré-históricos: um que cultuava o fogo como algo sobrenatural e outro que dominava a tecnologia de fazer o fogo. Em termos de linguagem, o primeiro não está muito longe dos demais primatas, emitindo gritos e grunhidos quase na totalidade vocálicos. Esse tipo de comunicação assemelha-se ao que Rousseau considera, em seu Ensaio sobre a origem das línguas, como a primeira manifestação de linguagem no homem, que é a expressão de suas paixões, como a dor e o prazer. Já o segundo grupo parece ter uma comunicação mais complexa, com maior número de sons articulados. Há outros elementos culturais, como habitações e ritos, que denotam um maior grau de complexidade do segundo grupo com relação ao primeiro.

No que concerne apenas à questão da linguagem, uma possível interpretação seria a seguinte: em um determinado estágio de sua evolução biológica, o homem, já se locomovendo como bípede e tendo suas mãos livres, aprendeu a manipular instrumentos, a interferir no seu meio e a fazer, dentre outras coisas, o fogo. A necessidade de preservação desse conhecimento, dessa tecnologia, levou-o a sofisticar a sua capacidade de comunicação. A princípio, sua linguagem pode ter sido meramente gestual, mas ele descobriu que os sons também poderiam se prestar a essa função.

Assim como, ao tornar-se Homo Erectus viu-se com as mãos livres (antes usadas principalmente na locomoção) e descobriu que poderia usá-las para manipular as coisas; assim como, ao tornar-se Homo Sapiens descobriu que poderia usar essa capacidade de manipulação para interferir no seu meio; da mesma forma, descobriu que os órgãos utilizados para funções vitais como a respiração e a digestão, também serviam para emitir sons. A partir do momento em que aprendeu a diversificar os sons através das articulações, conseguiu aumentar as possibilidades de combinação entre eles. Uma vez estabelecidas determinadas convenções entre os seus semelhantes, possibilitou-se a troca de informações (como a tecnologia de fazer o fogo) de um indivíduo para o outro.

A sofisticação da linguagem serviu para facilitar a comunicação de uma informação complexa, talvez não expressável meramente pelo gesto. Portanto, como diria o pai da Linguística Moderna, Ferdinand de Saussure, “não é a linguagem que é natural ao homem, mas a faculdade de construir uma língua, vale dizer: um sistema de signos distintos correspondentes a idéias distintas”.
As divagações acima são apenas leituras possíveis do interessante filme de Annaud. E os indícios lingüisticos (a distinção entre a linguagem de uma tribo e de outra) foram pensados pelo foneticista Anthony Burgess, que assina o roteiro. Burgess ficou conhecido pelo livro Laranja Mecância, que foi adaptado para o cinema por Stanley Kubrick.

A Guerra do Fogo, com roteiro de Burgess e direção de Annaud, pode ser monótono e cansativo para quem não tem curiosidade pelo tema. Mas aqueles que se interessam não só pela origem da linguagem, mas pelas raízes da espécie humana e pelo florescer da razão e das tecnologias, irá apreciar o filme.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Aula de 6 de maio

Então, meu caso é.... que acordei sem voz e pedi que avisassem às duas turmas de que eu não daria aula. :(    Quarta eu já tava com dor de garganta e meio rouca e, hoje de manhã, nem um fio de voz. 
Na aula de quarta tratamos das laterais, incluindo o processo de variação e mudança que envolve a lateral em coda silábica e descobri que ainda não tinha tratado das consoantes nasais na turma das 11 horas. Hoje falaríamos das vibrantes, mas como eu não "falaríamos" nada, o jeito foi ficar recolhida.

No mais, tudo show!

Bom fim de semana e até a próxima quarta!